Podemos chegar a 200 mil mortos (Ricardo Gouveia)

27/07/2020

Por Ricardo Gouveia

É possível que o Brasil termine o ano com mais de 200 mil mortos, cogitam infectologistas diante do cenário atual de aumento dos casos em 11 estados, em decorrência do afrouxamento do isolamento social. Tem certas horas que parece um sonho ver vídeos de pessoas aglomeradas em vias públicas, em sua maioria, sem máscaras, como se a pandemia tivesse passado.

Ao contrário do que tais imagens indicam, a média de óbitos no País, que é altíssima, acima do patamar de mil mortes diárias há bastante tempo, apresentou crescimento nos últimos dias. Além disso, a estabilidade dos números é comum à maioria dos estados, com alguns casos isolados de desaceleração da propagação do vírus. Ou seja, a situação é cada vez mais caótica, embora o comportamento da maior parte da população seja incompatível com a gravidade do momento.

O negacionismo parece ter atingido o seu ponto máximo, com adesões cada vez mais numerosas de pessoas que não estão suportando continuar no isolamento social, indispensável à preservação de suas vidas e das demais que integram a sociedade. Muitas dizem que já deram as suas cotas de contribuição, permanecendo por mais de três meses em casa, e que não é justo continuarem afastadas do convívio social, enquanto outras aproveitam a vida, indo a praias, quiosques e bares. O certo seria elas dizerem "enquanto outras arriscam as suas vidas, indo a praias, quiosques e bares".

As pessoas que aderiram ao isolamento social e que, agora, começam a afrouxar as rédeas não percebem que, enquanto não houver vacina, permanecer em casa, sempre que possível, é a única maneira de conter o espalhamento dos vírus e o aumento das mortes, que podem chegar a 200 mil até o final do ano, somente no Brasil. O isolamento, sempre que possível, e o uso de máscaras, de forma permanente, devem ser mantidos até o surgimento da vacina. Não há outro caminho.

De qualquer forma, é preciso refletir sobre os números da pesquisa nacional realizada pelo Instituto Locomotiva no início deste mês, com cerca de 2 mil entrevistados. A pesquisa revelou que 74% pretendiam evitar shoppings, com o fim do período de isolamento social. Também 69% não estavam dispostos a frequentar restaurantes, parques, praças e praias; 67% lojas de comércio de rua; 55% salões de beleza e barbearias; 54% transporte público e 45% academia de ginástica. São números que, embora longe do comportamento coletivo desejado pelos cientistas, demonstram não corresponderem à realidade da maior parte das pessoas os vídeos com aglomerações que temos visto.

Mas a adesão deveria ser muito maior para evitar que a catástrofe humana, no Brasil, alcance 200 mil vidas perdidas até o final do ano. Ainda é possível alterar essa tendência. Só depende de cada um de nós. Reflitamos sobre isso.

Ricardo Gouveia é pai de três filhos, jornalista e apaixonado pela língua portuguesa escrita e cantada

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