Onde está a cidade? (Francis Ivanovich)

29/07/2020

Textão de Francis Ivanovich

Onde está a cidade que conheci? Onde estão a Cinelândia, a Rua da Carioca, o Largo da Carioca, o Largo de São Francisco, a Praça Tiradentes, a Praça Mauá, a Avenida Rio Branco? Não reconheço a minha cidade, amada, de tantas caminhadas e paradas estratégicas. O velho Paisano, do Bar Luís, o Amarelinho.

Onde está a cidade? Não tem a ver com pandemia. A cidade padece de algo mais destrutivo do que qualquer vírus. A cidade está doente dos que a governam. Tantos desmandos, tantos. Obras inúteis, descaracterização da minha cidade, onde outrora os antepassados transitaram. O centro do Rio agoniza há tempos, abandono e incompetências de gabinete, falácias do urbanismo. A cidade sou eu, você, todos nós. O que a cidade precisa é de gente. Gente de verdade morando outra vez nos seus recantos, nas suas casas e sobrados. A cidade precisa de coração, cultura, novas histórias, sangue e alma.

O centro do Rio só irá se recuperar se realmente se tornar um território vivo. De domingo a domingo, chova ou faça sol. Crianças brincando, mulheres conversando, amigos trocando ideias. Um bairro Centro da Cidade criando novas possibilidades, gerando novos sonhos, acalentando novas esperanças. Ah! se eu fosse o prefeito. Tornava a Rio Branco ser o que era, botava aquele trem metido a besta no lugar que ele merece. A Rio Branco sem carros, sem máquinas, de novo passarela de toda gente. A destruição da Avenida Rio Branco foi um desastre. Não consigo me acostumar com as inutilidades que ali foram colocadas.

O Centro do Rio vai se recuperar, acredito, tenho fé, mas talvez eu não veja, pode ser que leve uns 50 anos, ou menos, para que ele novamente se revigore, revelando toda a sua beleza e riqueza. O centro do Rio é uma maravilha - o autêntico Porto Maravilha. A questão é que o poder do Capital está sempre destruindo as coisas, inventando necessidades, enganando o povo. Quero o Centro do Rio de novo. Olho, olho e não o vejo. Sinto tristeza, depois nostalgia, e fico a perguntar onde está a minha cidade? Não ouço resposta. Enquanto isso, o Centro do Rio segue temporariamente enfermo. Não morrerá.

Francis Ivanovich é jornalista e artista.


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