Manifestações: As ruas pertencem ao povo (Francis Ivanovich)

07/06/2020

Textão de Francis Ivanovich*

O ano de 2020 estará para sempre nos livros de História. O mundo mudou completamente neste ano. Além da pandemia, as gerações futuras vão pesquisar sobre as manifestações que explodiram. Assim como ocorreu com o emblemático maio de 1968, na França. Talvez até este texto ganhe uma olhadela rápida de algum estudante de Ciências Sociais. Arrisco dizer que as manifestações que eclodiram a partir  do assassinato de George Floyde, cometido covardemente por um policial branco, nos EUA, deram início a uma nova revolução cultural, em que o racismo não mais será tolerado e nossos irmãos negros/pretos serão respeitados na sua  dignidade de pessoa humana.

É vergonhoso para todo  branco o passado escravagista. Nós brancos, detentores de privilégios que foram erguidos sobre a morte, a dor, e a escravidão, devemos renuncia-los e ter a obrigação de sermos aliados nessa luta contra o racismo que ganha uma nova força. Devemos respeitar, cultuar, reconhecer e promover nomes como Marielli, Maria Firmina dos Reis, Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo, Paulina Chiziane, Zumbi dos Palmares, Martin Luther King, Malcolm X, Nelson Mandela, Frantz Omar Fanon, entre tantos que deram importante contribuição para a vida livre de todos os povos.

O racismo no Brasil é uma grande vergonha. Ele é naturalizado no olhar, no gesto, na atitude de todos nós brancos. Aprendemos a ser racistas. Não nascemos racistas. A escola do racismo é a própria estrutura social injusta, desigual, aviltante, nefasta que naturaliza a covardia, a opressão, o preconceito, a violência e o medo.

No Brasil a injustiça tem cor. Nós brancos não podemos mais pactuar com isso, sentados sobre o  privilégio de uma branquidez cínica. Somos uma só espécie, raça humana. A raça pura é uma mentira genética. Delírio doentio de pervertidos políticos. O movimento Black Lives Matter, com origem na comunidade afro-americana, que repudia a violência praticada contra as pessoas negras, está se espalhando e vai tomar o mundo.

Minha neta Nalu, que têm ascendência indígena, não nasceu racista, e talvez viva num mundo mais igual. Ela não será racista, não pactuará com o racismo, essa deformada construção subjetiva germinada no mundo branco que visa a dominação de nossos irmãos negros/pretos para o nosso próprio proveito. É ultrajante vermos nas ruas do Brasil manifestações de apoio ao racismo e ao fascismo, como vimos recentemente. 

Neste domingo, 07 de junho de 2020, começou a virada! Aconteceram as primeiras manifestações brasileiras. São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília foram praças das manifestações organizadas pela sociedade civil que visa democracia, liberdade e o fim do racismo. A mudança só está começando. As ruas pertencem ao povo. Os livros de história, ainda escritos por brancos, serão reescritos tambêm por negros. Quem sobreviver à pandemia, verá! Chega de barbárie!

*Francis Ivanovich é escritor, dramaturgo e cineasta.

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