Liberdade 02: O vírus do autoritarismo é mais perigoso do que o novo coronavírus (Francis Ivanovich)

05/05/2020

Em 1989 - que saudade dos anos 80, eu era feliz e não sabia - a G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense, numa composição de Jurandir, Niltinho Tristeza, Preto Jóia e Vicentinho, nos presenteou com o marcante samba-enredo Liberdade, Liberdade! Abra as asas sobre nós.

No primeiro refrão está o maravilhoso desejo dos compositores que, de certa forma, expressavam o sonho de um novo Brasil que saíra das garras de uma longa ditadura e acabara de adotar a nova Constituição de 1988.  Diz o refrão do samba que você poderá acessar e ouvir no link, ao final deste texto:

Liberdade, liberdade!

Abra as asas sobre nós (bis)

E que a voz da igualdade

Seja sempre a nossa voz.

O nosso genial Nelson Rodrigues dizia que "a liberdade é mais importante do que o pão". Concordo com Nelson, sem liberdade não há pão na mesa, e certamente comeremos o pão que o diabo amassa nos porões da maldade.

Bem, o tema de hoje é liberdade. Confesso que ando bem preocupado com os recentes e sucessivos acontecimentos em Brasília. Nosso país, além de estar sofrendo com a tragédia da pandemia, está sendo obrigado a viver tempos ainda mais difíceis por uma evidente estratégia de implantação de um regime que nos tire a liberdade. Tenho me perguntado se nossa liberdade não está ameaçada por um vírus muito mais perigoso, sem exagero, do que o novo coronavírus. O vírus do autoritarismo.

O último vírus autoritário contaminou o Brasil por 20 anos, causou grandes danos ao povo brasileiro. Nenhuma pandemia durou tanto. No passado,  mesmo sob as piores condições de vida, como a da Gripe Espanhola, após a Primeira Guerra, países que não estavam sob um regime autoritário viviam em bem melhores condições do que os países que estavam acorrentados, esmagados por ditaduras.

Em pleno século 21, vemos figuras obscuras vagando entre os mortos da pandemia, com suas línguas venenosas, mãos maliciosas, e corações carregados de ódio, anunciando que estão dispostos a fazer com que o país reviva, por exemplo, o AI5, que simplesmente concedia poder ao Presidente da República para cassar mandatos de deputados federais, estaduais e vereadores; proibir manifestações populares de caráter político; suspender o direito de habeas corpus, tanto em casos de crime político, como contra a ordem econômica, segurança nacional ou economia popular. Um absurdo!

Todos e todas que prezamos pela democracia, pelo direito do livre pensamento, reunião, expressão, do ir e vir, da cidadania, devemos estar atentos e prontos para repudiar que isso aconteça. Senão, corremos o risco de, ao final da pandemia, não termos a liberdade de voltar às ruas e seguirmos com nossas vidas.

Link do samba-enredo: https://www.letras.mus.br/imperatriz-leopoldinense-rj/46373/

* Francis Ivanovich é Jornalista, dramaturgo e cineasta.

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