Cultura 02: Como será? (Francis Ivanovich)

10/06/2020

Textão de Francis Ivanovich*

Ir à livraria favorita, após esta pandemia, não será o mesmo. Assim como ir ao cinema, teatro, dança, show, palestra, debate, performance, exposição, etc. Não importa qual seja a atividade cultural, a relação público - artista - objeto terá um outro tom. Como manusearemos os livros recém lançados, prazer indescritível? Como nos sentaremos na plateia de um teatro, no cinema? Como assistiremos o show tão esperado, lado a lado? Não sabemos que protocolos serão criados, mas dá pra prever situações bem chatas.

Nas livrarias vejo um funcionário exclusivo para distribuir luvas. Não estranharei ver prateleiras tapadas por vidro transparente, vitrines que lembram mais uma loja de sapatos. A gente olhando para o título, babando como criança diante de um doce. O funcionário pergunta: Vai levar? Você humildemente, quase clamando, diz que deseja dar uma folheada; e o funcionário te olha sério e diz: não é permitido!

Num teatro de 100 lugares, por exemplo, veremos reduzido a 50 lugares. Todos e todas sentados distantes, imobilizados, sem tirar suas máscaras. No palco os atores também mascarados, ocultando suas expressões, a fala abafada. Só de imaginar esta cena, tremo de pavor!

Nas salas de cinema a coisa pode ser mais suave. Nem todo filme lota uma sala. As cadeiras vazias não são incomuns. Usar máscara no escurinho só ira atrapalhar o beijo ou comer pipoca. Mas se a bilheteria do filme arrebentar, aí teremos problemas. Aliás, que saudade estamos de um bom cineminha. Já não suportamos a overdose de Netflix.

Um show? Uau! Isso vai ser um deus nos acuda! Como assistir ao show do artista favorito num quadrado desenhado no chão, sem o calor do outro ao lado? E os artistas no palco? Todos de máscara personalizadas, álcool gel escorrendo pelos instrumentos, olhando para a plateia semelhante a um tabuleiro de xadrez. Vai ser difícil respeitar distanciamento social quando o hit inesquecível escapar pelas caixas.

A cultura é um dos segmentos que mais está sofrendo com a pandemia do Covid-19, e certamente será um dos que mais será transformado quando tudo passar. Uma política nacional de apoio aos artistas seria fundamental, mas com o desenrolar da trama, vemos claramente que a cultura não é prioridade para o atual governo.

Resta aos artistas irem se preparando, reinventando-se, superando as dificuldades da arte e da vida.  Ser artista não é apenas uma escolha profissional. É algo bem mais profundo. É um destino de alma. Enquanto isso, o público aguarda ansioso pelo reencontro com seus artistas queridos. Encontro esse que se traduz no carinho sonoro do aplauso.

Francis Ivanovich é escritor, dramaturgo e cineasta.*

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