Comportamento 01: O brasileiro é um povo triste (Francis Ivanovich)

01/05/2020

             Textão de Francis Ivanovich*

O comportamento do brasileiro é um mistério. Tese para estudos comportamentais no campo da Psicologia. Desde jovem desconfiei desse brasileiro "gente boa". Povo receptivo, sem igual, sempre alegre, muitos dizem. Principalmente quando estamos para receber turistas em determinadas épocas do ano, como o carnaval. Não tenho teorias, mas palpites, baseados na minha visão descomprometida com dados científicos, alias, não quero convencer ninguém de nada.

O Brasil registra altas taxas de homicídio, por exemplo. É um lugar no mundo onde a vida parece nada valer. O mais bizarro é que os motivos desses homicídios são muitas vezes tolos. Uma briga de bar; discussão por causa de futebol, olhar atravessado, ciúmes da parceira ou parceiro. A pessoa é capaz de tirar a vida de outra por uma tolice, mas não fica indignada com os que os políticos fazem com sua vida, da sua família e o país. Fica caladinho. Rabo entre as pernas, complexo de vira-lata, como disse bem Nelson Rodrigues.

O brasileiro vira patriota fervoroso quando a seleção brasileira disputa uma copa, mas nem se importa, não dá a mínima para questões sobre o Brasil, sobre nossa soberania, nossa democracia, aliás, é capaz até de defender a ditadura. É capaz de eleger figuras completamente sem condições de ocupar um cargo publico. Não vou dar nomes, nem precisa, basta passar os olhos em nossa história recente.

Nas ruas, no Brasil real, vemos um brasileiro agressivo, violento no trânsito, em casa, batendo em mulher, em criança, maltratando velho, mas fica caladinho numa fila vergonhosa para receber 600 Reais durante a pandemia, sendo humilhado, sem hospitais, educação, saneamento, segurança, trabalho.

Se não receber o que tem direito, volta conformado para casa, isso se tiver casa; se receber, agradece a Deus, ao padre e ao pastor. O brasileiro é mesmo um mistério. Uma personalidade oscilante, ora nas alturas, ora cabisbaixo, resignado.

Agora vemos outra bizarrice comportamental do brasileiro. Como encara a pandemia. O brasileiro parece não acreditar. Basta vermos como estão as ruas pelo país. Gente que parece estar de férias, como se nada de grave estivesse ocorrendo. Ou parece não querer acreditar, negando a realidade para não entrar em desespero. Por vezes acho que o brasileiro não tem condições emocionais para encarar os grandes problemas da vida, numa eterna fuga frente aos problemas, como um adolescente.

Uma dos meus palpites é que o brasileiro é um povo triste. Lá no fundo sente imensa dor, e finge ser esse povo tão pra cima, tão cheio de vida, escondendo sentimentos de muito sofrimento. Há povos que se rebelam, mas o brasileiro parece ter optado pelo conformismo, a fuga de si mesmo.

Mas a fase adulta parece estar chegando para o brasileiro, e o futuro começa a lhe cobrar o amadurecimento enquanto povo. Deixar a adolescência. Será que conseguiremos?

Torço que sim. Isso se os políticos deixarem.

* Francis Ivanovich é jornalista, dramaturgo e cineasta.

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